O seu cãozinho está com problemas comportamentais?

pergunte para o Alexandre Rossi e Cão Cidadão

Tutor(a): Márcia, Dalla e Cristiane Santin
Cachorro: Kuka, Oscar e Kiko
PROBLEMAS NO PASSEIO
6 jan 2016

Dicas para lidar com problemas durante os passeios

“Adotei a Kukinha numa Ong, onde a mãe dela havia sido recolhida, com 50 dias. É uma vira latinha linda de 3 aninhos, com 5kg 500gr. Sem muita experiência com cães e sabendo que enquanto não tivesse todas as vacinas não deveria conviver com outros cães, mantive-a em casa até os 4 meses. Não sei se por não ter sido sociabilizada, Kuka até hoje tem horror de sair de casa!!! Some e se esconde embaixo da cama quando vê a guia. Se forço em leva-la, treme muito, fica extremamente amedrontada e o coração acelerado. Puxa em direção ao prédio e fica de plantão na porta do elevador. Em casa pula, corre, brinca feliz. Devo força-la a sair? Ficar só em casa feito um gato não fará mal para sua saúde? São 3 anos que tento sair e volto estressada da tanto que ela puxa e treme. Obrigada” – Márcia, dona da Kuka, de três anos.

“O Oscar é um cão extremamente dócil, interativo, obediente dentro de casa, não é territorialista, brinca com meus outros dois cães (um border-irmão de 3 anos, e um lhasa). Não tem ciúme de comida, brinquedos, MASSSSSS na rua, avança em cachorros e pessoas, sai muito excitado de casa (não falo nada, nem solto som para não contribuir com o estado dele), e grita muito na rua se está feliz, como se tivesse sendo atropelado (rsrs), sou famosa no bairro. Por exemplo, no Museu do Ipiranga, brinca comigo, me segue, mas se um cachorro se aproximar… aiaiai… Gostaria muito de tentar algo, com vocês, para que ele tenha qualidade de vida, com menos excitação, e não ofereça risco às pessoas e cachorros. Obrigada.” – Dalla, dona do Oscar, de três anos.

“Boa Tarde!! Adotei o Kiko com aproximadamente 2 meses de idade, e em vista de ter que tomar as três doses da vacina só consegui leva-lo para passear com quatro meses, e no início ele passeava direitinho!! Aqui perto da minha casa tem um portão de ferro com um espaço de grades embaixo e uns três cachorros grandes vieram correndo dos fundos e pularam nesse portão fazendo um enorme estrondo (parecia uma explosão), eu levei um baita susto, imagina o Kikinho!! Bom, a partir daí ele ficou extremamente agitado nos passeios, quando ele vê outro cão mesmo de rua ele grita, late e se debate!! Fizemos um treinamento com um adestrador que nos ensinou a usar o enforcadorzinho de pano como correção, ele melhorou um pouco, mas ainda temos que tirá-lo da “zona de confronto”, pois ele fica bem agitado!! E além desse problema ele desenvolveu um verdadeiro pânico de estouros e foguetes, no último Natal/Ano Novo, fiquei desesperada, pois ele não para quieto, fica caminhando pelas peças da casa, querendo subir (moramos em um sobrado), se sobe quer descer, tenta subir nos móveis, tive que dar maracujina e outro calmantezinho fraco receitado pela Veterinária dele!!Ele toma florais, belladona…enfim, foi depois desse “trauma” com os cachorros do vizinho!!Não sei mais o que fazer, mas gostaria muito de socializa-lo e amenizar o medo de foguetes! O que devo fazer?” – Cristiane Santin, dona do Kiko, de dois anos.

Por Fernanda Araújo, adestradora da equipe Cão Cidadão.

Olá Márcia, Dalla e Cristiane! Vocês têm toda a razão em se preocuparem com o passeio de seus peludos, pois esse é um momento importantíssimo para a qualidade de vida deles, que precisa ser prazeroso para todos e fortalecer a ligação entre donos e animais. Seria muito bom se fosse só colocar a coleira e levar o cãozinho para vivenciar esse momento gostoso, não é? No entanto, infelizmente, nem sempre é tão simples quanto gostaríamos.

Os cães são seres que vivenciam emoções, como medo e ansiedade, e esses sentimentos podem ser engatilhados em determinadas situações. É o que provavelmente acontece com a Kuka, o Oscar e o Kiko, que podem sentir medo e ansiedade relacionados com o passeio, e que podem já ser engatilhados desde o momento que pegamos a guia, como a Márcia relatou.

No passeio, o cãozinho pode vivenciar diversas situações que podem ser muito estranhas, assustadoras e fora de controle para ele. Ao vivenciar isso, pode ser estabelecida uma relação não saudável com o passeio. Dentro de casa, as situações que ele vive são muito previsíveis, o que o mantém seguro e confiante para brincar e ficar relaxado, por isso, os cãezinhos de vocês são tranquilos em casa no dia a dia comum, mas não no passeio.

Outro fator muito importante que vocês citaram foi o fato de que seus bichinhos saíram de casa apenas a partir dos quatro meses de idade, quando o ciclo de vacinas acabou. É correta a informação de que os cães ficam mais suscetíveis a doenças se forem colocados na rua antes do fim do ciclo de imunização, no entanto, o que os especialistas em comportamento animal indicam é que o filhote seja apresentado na fase de sociabilização a tudo o que um dia ele for encontrar durante a vida, sem expô-lo aos perigos de doenças, é claro.

O ideal é que levemos os filhotinhos de até quatro meses no colo, ou até mesmo dentro do carro, para conhecer a rua (sem se encostar na rua) e tudo que ocorre nela, fazendo essa apresentação de forma gradual, positiva (pode ser associado a um petisco para tornar as situações o mais agradáveis possível) e que o cão não fique com medo, mas que se sociabilize com tudo isso. O trabalho feito nessa fase pode evitar inúmeros problemas comportamentais no futuro, no entanto, poucas pessoas possuem essa informação. O que ocorre, na maioria dos casos, é que o cãozinho, depois de passar quatro meses em uma redoma dentro de casa, de repente tem que enfrentar um monte de situações pelas quais ele nunca foi preparado! E aí pode acontecer justamente o que vocês relataram: cães que, ao enfrentarem essas situações, criam relações que não são adequadas para o passeio, reagindo a isso com agitação e medo.

Agora que já sabemos as possíveis motivações dos seus peludinhos para reagirem mal ao passeio, como podemos melhorar a situação deles? É preciso modificar a relação que eles fizeram com o passeio! Se o cachorro é muito medroso, é preciso fazer com que ele perceba que o passeio pode ser legal, associando a coisas positivas, como um petisco. Não force o passeio, isso só pioraria o que ele já sente. Seja muito paciente e vá relacionando todas as fases de saída de casa para o passeio com coisas muito positivas e, somente quando estiver tudo bem tranquilo, saia de casa e, se o cachorro se mostrar com muito medo, retroceda. Também é muito importante que você se mantenha seguro e calmo, pois a sua postura corporal pode dar indicativos ao cão se aquela situação é realmente ameaçadora ou não.

Já para o cão que fica agitado durante o passeio, mostre a ele que a saída só acontecerá quando ele se acalmar, o que pode levar certo tempo. Se o cachorro já fica muito agitado ao ver a guia, deixe-a exposta e bem visível ao cão sempre: pegue nela, mas não coloque no cachorro, repetindo esse processo algumas vezes, até que o cachorro se sinta bem ao ver esse movimento, sem ficar agitado ou desencadear um processo de ansiedade. Evite ocasiões em que o cão entre em um estado de grande ansiedade, pois, nesse ponto, o cão dificilmente prestará atenção em você. É importante ressaltar que, tanto para os cães medrosos como para os agitados no passeio, as situações que comumente geram medo ou agitação devem ser apresentadas de forma gradual, modificando, assim, a relação estabelecida, e fazendo com que o passeio se torne aquele delicioso momento que todo tutor quer ter com o seu amigão peludo.